28 Julho 2020
"Existe a questão sobre os limites de uma pastoral virtual, que chegue a passar por cima do corpo e das relações presenciais, para se transferir para o terreno da mídia. Alguém - a título de exemplo - chegou a propor uma 'confissão' por telefone: Confessez vous par téléphone; é um serviço pago, com lucros distribuídos para instituições de caridade. Em uma sociedade que está investindo cada vez mais em tudo que é 'e-' (e-commerce, e-learning, e-banking...), a perspectiva de uma e-praying ou de uma e-community eletrônica é também preocupante", escreve Paolo Giulietti, arcebispo de Lucca, Itália, em artigo publicado por Missione Oggi, edição de maio-junho de 2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nos dias de Covid-19, grandes restrições afetaram todas as dimensões da atividade eclesial, com exceção do trabalho de caridade, porque os serviços da Caritas, das Misericórdias e de outras instituições católicas continuaram a funcionar, aliás, foram muitas vezes fortalecidas, para atender às crescentes necessidades dos pobres, das famílias, dos idosos, dos trabalhadores da saúde... De resto, das reuniões da catequese até as celebrações quaresmais e pascais, houve um amplo e original recurso aos canais de mídia para, de alguma forma, continuar a vida da comunidade cristã. Houve muita discussão - como era de se esperar, também por causa da Semana Santa - especialmente em torno da liturgia, apontando o dedo para as dinâmicas de "clericalização" e "virtualização", aceita por alguns como um mal menor, execradas por outros como profunda deturpação da natureza da celebração e da reforma conciliar. Muito menos foi discutido sobre as iniciativas de caráter de formação e de agregação que foram realizadas graças às mídias, especialmente no nível das crianças, jovens e agentes pastorais.
De qualquer forma se considere a questão, foi um grandioso laboratório eclesial, onde pastores e pessoas de fé fizeram suas tentativas sobre o uso pastoral das ferramentas de comunicação. Não é que faltassem experiências a respeito, mas desta vez a situação assumiu proporções inesperadas, porque foi por um período substancial a única forma possível de interação comunitária, como nunca havia acontecido no passado. Certamente ainda é cedo para fechar um balanço, mas algumas observações podem certamente ser compartilhadas.
Antes de tudo, é necessário reconhecer que o uso das mídias - do telefone, da televisão e das redes sociais - tornou realmente possível garantir um mínimo de relação comunitária e de vida eclesial, o que, de outra forma, teria sido impossível. Pode-se discutir o quanto quiser sobre a congruência teológico-litúrgica das celebrações e orações virtuais, mas a alternativa teria sido o nada. E algo é sempre melhor que nada.
Além disso, é evidente que, no geral, não estávamos preparados. Apesar das repetidas afirmações da necessidade de um empenho nas "novas linguagens", muitos se viram usando ferramentas e pensando iniciativas a partir do zero.
Desse ponto de vista, a epidemia pode ser considerada providencial: obrigou a Igreja a se medir com as tecnologias e as linguagens da comunicação, tomando consciência de suas possibilidades surpreendentes e experimentando sua natureza não antagônica, mas complementar com relação às modalidades presenciais da ação eclesial.
Aqueles que afirmavam a inutilidade ou perniciosidade de uma pastoral que utilizasse as mídias, tiveram que mudar de ideia. Descobrimos que ter jornais, televisões, rádios, sites, páginas do Facebook, canais sociais e chats (WhatsApp acima de tudo) não é supérfluo, embora comporte o emprego de recursos.
Percebemos que as pessoas que são especialistas nessas áreas são preciosas em uma paróquia que não precisa apenas de catequistas, ministros extraordinários de comunhão ou cantores de coral, mas também de "geeks" de todos os tipos. Por fim, verificamos que as interações virtuais não enfraqueceram, mas aumentaram o desejo de participar pessoalmente da vida da comunidade, despertando ou fortalecendo as relações interpessoais.
Existe, no entanto, um aspecto sobre o qual refletir: em muitos casos, o uso dos canais de mídia se limitou a reproduzir virtualmente as modalidades usuais de ação eclesial. Principalmente, no lado litúrgico, chegou-se a "fazer assistir" de casa ao que não se podia participar pessoalmente. Também do lado de formação/agregação, foram muitas vezes propostos os mesmos discursos e os mesmos conteúdos que teriam sido proporcionados nos encontros impossibilitados pela epidemia.
É lícito perguntar-se se esta é a forma completa de uma "pastoral digital", ou se não seria necessário imaginar e experimentar modalidades de oração, aprendizado, compartilhamento, agregação... de tipo diferente, ou seja, capazes de valorizar as potencialidades interativas que hoje resultam tecnicamente possíveis.
Como garantir que aqueles que desejam participar de casa da oração da comunidade não permaneçam meros espectadores, mas participem de alguma forma na celebração? Como tornar eficaz - claro, divertido, interativo, sintético... um encontro de catequese via Web?
Finalmente, existe a questão sobre os limites de uma pastoral virtual, que chegue a passar por cima do corpo e das relações presenciais, para se transferir para o terreno da mídia. Alguém - a título de exemplo - chegou a propor uma "confissão" por telefone: Confessez vous par téléphone; é um serviço pago, com lucros distribuídos para instituições de caridade.
Em uma sociedade que está investindo cada vez mais em tudo que é "e-" (e-commerce, e-learning, e-banking...), a perspectiva de uma e-praying ou de uma e-community eletrônica é também preocupante...
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A pandemia é uma ocasião para a “conversão pastoral” rumo a uma igreja virtual? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU